O CLIMA DA PENÍNSULA IBÉRICA (PI)


Preámbulo


Fuente: Jacques Descloitres,
MODIS Rapid Response Team,
NASA/GSFC
A investigação climática trata de analisar a resposta da atmosfera, oceano, terra e gelo ao forçamento solar no intervalo de tempo determinado. A complexidade do sistema climático requer o uso de métodos estatísticos para identificar relações entre os constituintes climáticos que estão ocultos entre as várias escalas espaço temporais em jogo. Navarra 1995.

O clima da Península Ibérica

A península Ibérica desfruta no seu conjunto de um clima temperado, determinado pela sua latitude geográfica e acentuado por estar banhado por águas relativamente quentes. Devido à variabilidade ciclónica anual que experimenta a circulação geral da atmosfera, faz com que a PI seja dividida em 2 zonas climáticas notavelmente diferentes: uma setentrional praticamente limitada a Caliça, Cantábria e pirenaica, onde por causa da sua latitude fica quase todo o ano fora da influencia directa das altas pressões subtropicais, a chamada “zona verde” e outra muito maior, que compreende ao resto da PI e que durante os Verões fica sob influencia da “Zona Parda”.
Em consequência a Zona Verde está influenciada pelos ventos de Oeste durante todo o ano, pelas perturbações originadas ao longo da superfície frontal polar, o que faz que as suas características climáticas sejam as de Europa ocidental (Invernos suaves, verões frescos, ar húmido, abundante nebulosidade e chuvas frequentes em todas as estações). Contrariamente, na Zona Parda o contraste assinalado pelas condições da circulação geral entre os Invernos e o Verão, lhe confere o clima nitidamente Mediterrâneo (Invernos suaves nas regiões costeiras e severas no interior, verões quentes e secos e abundante Insolação e chuvas muito irregulares em Outono Inverno e primavera).Esta divisão em 2 zonas climáticas radicalmente distintas constitui a sua característica mais singular pelo que faz sentido fazer uma abordagem do clima regional Font, 1983.

A temperatura

A irregularidade da temperatura anual na PI se deve a irregularidade da orografia. A pesar de isto a variação latidudinal da temperatura se manifesta pela diferencia da ordem de 4 ºC que se observa entre as costas meridional e setentrional , e a diferencia de 2 ºC entre as does planaltos . Outro aspecto a considerar é que a periferia mediterrânea é 2 ºC mas quente que a atlântica . Outro aspecto a no esquecer é a penetração para o interior através dos rios o carter mas temperado do mar, o que especialmente profunda no Tejo, Guadiana e Guadalquivir . Pelo lado do mediterrâneo esta penetração do ar morno se faz sentir em menor grau devido a que os ventos de Este são menos frequentes que os ventos de Oeste. Figura 1 b) Onde estão representados os valores médios anuais desde 1958 a 2004 com dados de NECEP/NECAR
Damos alguns casos em destaque da variabilidade espacial que resultam de valores observados no periodo de 1943 a 2004. Asssi sendo: 1) - O valor ao nível do mar varia entre pouco menos de 14 ºC em pontos da costa Cantábrica até pouco mais de 18ºC no Sul mediterrâneo e na costa sul atlântica; 2) - ao longo do litoral mediterrâneo oriental a temperatura média anual varia entre 15ºC em alguns sectores da costa de Catalunha à 18 ºC na costa de Almeria. Nas Baleares os valores junto ao mar variam entre 16 e 18 ºC; 3) a temperatura média anual pode ser negativa por cima dos 800 m na metade norte peninsular (positivas em certos pontos da serra Nevada a 3100 m; 4) a meseta setentrional apresenta valores entre 10 e 12.5ºC e a meridional entre 12.5 e 15, em geral; 5) as terras baixas da bacia de Ebro apresentam temperaturas médias anuais superiores a 15 ºC; 6) os valores diminuem desde litoral ao interior, diminuindo de poente à nascente (figura 1 b)
O gradiente térmico anual, em Portugal, vai aumentando de Norte para Sul. O efeito amortecedor (regulador) do Oceano Atlântico e da Latitude está bem patente nas temperaturas mínimas. Observamos que no período de 1949-2000 a isotérmica de 10.5 ºC passa sobre Aveiro no mapa das temperaturas mínimas enquanto que, no mapa das temperaturas máximas a isotérmica é de 20 graus no mesmo período.Esses valores não oscilam muito daqueles encontrados por Loureiro e Macedo (1986) no período de 1952-1982. A temperatura média anual na bacia hidrográfica do rio Vouga oscila entre os 12.3 ºC no Caramulo e os 15ºC em Anadia, sendo o valor da temperatura média anual na bacia de 12.7 ºC, Fonte; T (1983) que encontrou valores anuais médios das mínimas de 11ºC e medias das máximas 18.1ºC no período de 1931-60.No período de 1981-2000 a temperatura médias anual é de 15.6 ºC. A médias das mínimas é de 14.8 e a das máximas é de 17.0 ºC. A diferença descreve precisamente a interpolação gráfica da distribuição espacial com o valor estatístico das médias observadas nos últimos 20 anos.

Precipitação

É um dos elementos mais importantes de Espanha, tanto desde o ponto de vista climático como de recursos, dada a sua elevada variação temporal e espacial. O total médio anual tem servido tradicionalmente para distinguir 3 grandes áreas: a Espanha húmida, seca e semidesértica. A divisão entre húmida e seca é estabelecida na isoeta dos 800 mm, em alguns casos na dos 600 mm. A divisão entre a Espanha seca e semidesértica (as vezes denominada árida ou semi-árida), é estabelecida nas isoetas dos 300 ou 350 mm. Esta divisão não tem representação espacial claramente separada. Assim, o mapa da precipitação media anual da Espanha é muito complexo como se mostra na figura 1 a).
A Espanha húmida ocupa a região denominada por Font 1986 a Zona Verde. Os valores médios superam os 1000 mm, e atingem os 2000 mm nos sectores expostos aos fluxos marítimos. A zona seca compreende as duas plantos( a bacia do Ebro e a depressão do Guadalquivir) e grande parte da zona oriental (excepto SE e os litorais Sul Atlântico e Sul Mediterrâneo). Também pertencem a Espanha seca as partes médias e altas do arquipélago das Canárias, Ceuta e Melilha. Valores próximos de 500 mm são frequentes na Espanha seca. A Espanha semidesértica está localizada no SE da Península de Almeria, Múrcia, Granada e Alicante. Ficam a margem algumas pequenas área nas Bacias Hidrográficas do Douro e Ebro, Lanzarote, Fuerteventura e nas terra baixas das ilhas Canárias (excepto Palma).


Precipitação média anual (mm)

Temperatura media anual (1948-2004)
Dados de Reanalysis NECEP/NECARReanalysis NECEP/NECAR
Duma forma quantitativa se estima que no período de 1981-1990 na Espanha peninsular, o volume médio da precipitação foi de 327.286 x 106 m3, o que equivale à uma média de 665 mm. O valor mais baixo corresponde ao Cabo de gata entre 125 e 150 mm, enquanto que, noutros lugares bem expostos da zona húmida superam os 2500 mm.
A quantidade média total de precipitação que cai em Portugal é de 8,4x1010 m3 por ano, não estando distribuída uniformemente no tempo nem no espaço. Há regiões onde a precipitação é bastante superior a que é produzida em outras, Por exemplo, as regiões a norte do rio Tejo recebem mais de 65% da quantidade total de precipitação caída em Portugal. A norte do Tejo, a precipitação é maior variando de 750 mm à 1450 mm. No Sul, é inferior à 650 mm

Tendências

As séries de precipitação não apresentam tendências significativas no período de (1931-2004), pelo que não se pode afirmar do ponto de vista estatístico que a precipitação acumulada anual tenha aumentado ou diminuído em nenhuma das zonas climáticas. Si olhamos para os resultados pelos valores médios anuais para toda a PI (janela das figuras 1 e 2 ), no período de 1958-2004 com dados de Reanalysis NECEP/NECAR, se observa uma descida dos valores da precipitação anual, sendo mais notável a partir de 1980.


Evolução temporal da precipitação média anual para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR.
Num estudo feito por regiões por vários autores como Martim Vide com valores observados no período de (1931-2004) mostram que - na zona Mediterrânea não existe tendência significativa da temperatura média anual, assim como da temperatura mínima. Se observou uma rotura de homogeneidade em 1980 na série de temperatura média das máximas Na zona Atlântica apresenta tendência nas três séries de temperatura (media, máxima e mínima). Foi detectada a rotura em 1978 (excepto para as mínimas, onde a rotura foi encontrada em 1986) e - Na zona Cantábrica, não existe homogeneidades nas três séries de temperatura, com maior destaque para a série das mínimas, que apresentam uma clara tendência positiva nos três períodos diferenciados. A rotura principal se situou em 1980. Comparando os resultados obtidos para Espanha com a série de temperaturas medias para o Hemisfério Norte, se destaca uma evolução similar com tendências positivas e com coeficientes de correlação próximos de 0.5. Na tentativa de observar o que acontece com os dados de Reanalysis no período de 1958 a 2004 em media para toda a PI se observa na figura 4 um tendência positiva das temperaturas. Se dividimos em dois partes, línea verde, se obseva uma tendência a diminuir até 1972 a, onde se atinge a mínimo de 17.2ºC. Seguem um claro aumento da tendência dos valores médios das máximas sobre a PI.
Notifiquemos que os 2 máximos de 19.4 ºC acontecem nos anos de 1989 e 1997 (coincidindo com anos intensos de El Niñ). As temperaturas mínimas mostram uma subida dos valores médios das mínimas na PI no mesmo período a tendência é menos acentuada que nas máximas, com uma subida acentuada nos últimos anos.
Em Portugal continental As variações da precipitação são irregulares.Existe uma diminuição significativa da precipitação em Março (e em Fevereiro no último período), em todo o país, com uma forte correlação negativa com o índice da Oscilação do Atlântico Norte (NAO).




Evolução temporal de temperatura média anual das máximas para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR

Evolução temporal de temperatura média anual das máximas para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR

As series de valores de temperaturas medias das mínimas anuais em Portugal Continental é clara a semelhança com o comportamento da media das mínimas sobre a PI existe uma tendência negativa na de 1945 a 1975 de -0.18 ºC/década, segue uma subida de 1976 a 2000 de +0.48ºC/década. O mesmo acontece com as series da temperaturas medias das máximas uma descida de -0.14ºC /década (1945 a 1975) e subida de +0.14 ºC/década (1976 a 2000). É significativo o aumento da temperatura média. Em geral o aumento é maior no caso da temperatura mínima, implicando uma diminuição da amplitude térmica diária.

Regionalização climática.

Com a amplitude de valores foi feita uma distribuição espacial com o objectivo de regionalizar o clima da Espanha contando com a contribuição de diferentes autores como Linés 1970, Tullot 2000, Campel Molina 2000, Martim Vide e Olcina 2001 e amplificado para Portugal Continental e insular.

 



Tipo
 
Subtipo Variedade P (mm) Reg.U.Est T(ºC) DT(ºC) Outras

Características

 

 

O
C
E
A
N
O

 

 

 


 

Atlântico

 

Montanha
Galega 1000-2500 Max. Inverno
e
Min. Estival
-
11-15 8.5-12 Abundantes nuvens e
 elevada humidade
ambiental
Asturiana e Cantábria 900-1500 12-14 10-11
Vasco litoral 1100-2000 -  
- 1000-2500 <12 -
A
T
L
A
N
I
C
O


 P
O
R
T
G
U
E
S

Continental Litoral Norte 900-1200 Máxima
em Inverno
e
Primavera
Mínima
Estival
14-14.5 9-20

Regime de nortada
 

Centro 700-640 16-17 10-22.5
Sul 440-700 14.8-16.8 19.6-22.5
Interior Norte 1000-1300 13.6-14.7 6-21.2
Centro 960-1050 15-16 9-23 Abundantes nuvens e
 elevada
Gradas frequentes em inverno
Sul 450-660 15.6-18 9-24
Insular Açores 960-1450 Com menor precipitação
no Verão
17-18 14-23 Abundantes nuvens e
 elevada humidade
 relativa
Madeira <550 - 19 16-22 -
 

 

M
E
D
I
T
R
R
A
N
E
O
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sob Mediterrâneo

- 700-1000 - 11-14 14.5-16 -
Continental
 
Meseta Norte 350-550 Máxima
em Inverno
e
Primavera
Mínima
Estival
10-12.5 16-18 Geada frequentes em Inverno
Sul 350-550 - 12-15 18-20.5 Temperatura Máxima estival
Vale do Ebro   300-550 Máximo
equinócios
13-15 18-20 Vento de NW seco
De Fachada
Oriental
Catalunha   550-750 Máxima Outono 14-17 14-17 Precipitações

Torrenciais Outono

Valência   400-850 Mínima
 Estival
15.5-17.5 13.5-16.5
Balear   400-800   16-18 13.5-15.5  
Meridional

-

-
-Litoral   400-700 Máxima inverno
Mínima
Estival
17-10.5 10-10.5 Geadas excepção
Vale do Guadalquivir   550-650 - 17-18.5 15-18.5 Temperatura Máxima estival
 muito alta -Extrema aridez
Estremenho   450-600 - 16-16.5 15.5-18 Temperatura Máxima estival
  muito alta -Extrema aridez
-Árido Sul-Este -   150-350 Mínimo estival 14.5-18.5 13.5-17 Extrema aridez
de montanha     600-2000

 

  <14

 

   
Sub-tropical
Canário

Litoral

    75-350 Máxima
Invernal
18-21 5-7.5 Alísios ao Norte
Extrema aridez
Elevada Humidade
  De montanha
mar de nuvens
    500-1000  Mínima
Estival 
13-15  6-8 

Elevadahumidadeambiental

  De altura     450-700   <12 12-14 Ar muito seco

Tabela 1:P, precipitação media anual (mm); Reg.u.est., regime udiométrico estacional, temperatura media anual (ºC); DT, amplitude térmica media anual (ºC).Regionalización climática de España. Fuente: Martín Vide, J. y Olcina (2001):



 



Padrões de circulação no clima da Península Ibérica



Oscilação do Atlântico Norte -NAO

A Oscilação do Atlântico Norte (NAO) é uma das principais fontes da variabilidade interanual da circulação atmosférica em dito sector. Tradicionalmente, se define o índice NAO como a diferença de pressão atmosférica entre a estação localizada na Islândia (Akuyeri o Stykkisholmur) e outra no Arquipélago dos Açores (Ponta Delgada) (WALKER e BLISS, 1932).O interesse deste índice tem-se renovado ultimamente pelo aparente domínio de fases positivas desde finais dos anos 70. De facto, HURRELL (1995), demonstrou que este fenómeno explica mais de 36% da variança do campo da pressão média de Dezembro à Março. Dentro da região compreendida entre 20_ 80 N e 90W-40 E. junto a pressão atmosférica, o índice NAO condiciona boa parte da variabilidade dos padrões da temperatura e precipitação sobre Europa (OSBORN, et al., 1999).A Península Ibérica não fica fora desta influência, sendo o sector mais ao Sul ocidental (durante os meses frios do ano,”Outubro-Março”), o que apresenta uma melhor correlação entre os valores deste  índice e a precipitação como foi confirmado pelos autores (MART´IN-VIDE et al., 1999; PITA et all., 1999).

 Foram  analisadas  correlações entre os valores da NAO e da precipitação em Dezembro e se comprovou que  os valores variam entre -0,5 e -0,7 numa boa parte do centro e sudoeste da península. Portanto, boa parte do comportamento do regime de precipitação  deste sector responde a dinâmica do dipólo da pressão atmosférica entre Islândia e Lisboa ou Açores.  

 

Índice de  Oscilação do  Mediterrâneo Ocidental -WeMO

O Índice de  Oscilação do  Mediterrâneo Ocidental (WeMO) é definido como diferença de pressões estandardizadas entre Cadiz-San Fernando e Pádua. Este padrão de variabilidade de baixa frequência mostra correlação negativa com a precipitação  no inverno (Janeiro) em Múrcia, Alicante e Valência, melhor que a encontrada na NAO.Tal di-pólo está constituído por um centro de acção no atlântico próximo da  Península Ibérica e outro localizado na área do centro da Europa e o norte da Península Itálica, que reflectem comportamentos das regiões atmosféricas mais importantes enquadradas na bacia  mediterrânea ocidental. A fase positiva se configura a partir de um anticiclone que se forma à  oeste da Península Ibérica, intensificando a alta de Açores e uma baixas  demissionária ao norte da Península.Tanto em Itália como no Adriático, esta situação sinóptica  fornece a advecção de  fluxos de componente norte para o interior da bacia do Mediterrâneo ocidental. A fase negativa corresponde o contrário, com uma baixa no golfo de Cádiz ou na área limitada entre Açores-Madeira, Canárias e SE ibérico e com altas pressões no centro da Europa e ao norte de Itália. Tal situação favorece os fluxos de componente Este numa boa  parte da bacia marítima considerada (figura 4). Então, o índice de Oscilação do Mediterrâneo Ocidental (WeMOi) caracteriza-se como a diferencia entre as pressões à superfície estandardizadas de Cádiz-San Fernando e de Pádua. Cada série de pressões (seja dum mês determinado) de ambas as cidades é transformada em valores segundo as suas próprias médias e desvios padrões, através das quais se restam os valores estandardizados (Cádiz-San Fernando menos Pádua).

 

 

 

 

 

 


 

 

 

Links didácticos de Climatologia

 Dinâmica do Clima: http://www.cgd.ucar.edu/

Construção de mapas

Temas de interesse que dizem respeito a Climatologia